sábado, 25 de junho de 2011

Profissionais questionam o uso do paracetamol em pacientes com dengue


Depois de 20 anos convivendo com o mosquito Aedes Aegyps, campanhas de educação e indicação de tratamentos não foram suficientes para evitar as epidemias, óbitos e o surgimento de vírus mais resistentes. Com os números de casos suspeitos cada vez mais altos e óbitos frequentes, os profissionais da área de saúde estão questionando a orientação do Ministério da Saúde que recomenda o uso do paracetamol para o tratamento da dengue.

A questão começou oficialmente quando o professor da Faculdade de Medicina de Rio Preto (FAMERP), Renan Marino, entrou com uma ação no Ministério Público, em abril de 2010, pedindo a não recomendação do paracetamol em casos de dengue. De acordo com ele, o uso do medicamento causa lesão hepática e o vírus da dengue provoca um quadro de inflamação no fígado.

“A dengue nada mais é que uma hepatite viral, ou seja, um quadro benigno de inflamação do fígado em 100% dos casos. O vírus da doença atinge principalmente o fígado, porém não destrói o órgão. Quando é receitado o paracetamol após uma semana de uso do medicamento, a droga começa a provocar lesões no fígado. O que torna o quadro do paciente mais grave”, argumenta o médico Renan Marino.

Um e-mail com estas informações se espalhou na internet. Apesar de algumas informações incorretas, Renan Marino destaca que o paracetamol tem a venda proibida nos Estados Unidos e é a principal causa de falência hepática adulta. Também é uma droga muito perigosa quando usada junto com bebidas alcoólicas. Para o professor Renan Marino, que pesquisa e atende pacientes de dengue há 10 anos, a doença é impossível de ser controlada.

“O Aedes Aegyps é muito bem adaptado e é impossível eliminar todos os focos de reprodução e vetores do mosquito. Nós teremos que conviver com esta doença. Porém, o que não pode ocorrer é termos óbitos por causa da dengue. Para isso, basta não agravar a doença com uso de medicamentos impróprios. Em muitos casos já foi identificado semelhança de sintomas entre a chamada dengue hemorrágica e a intoxicação por paracetamol”.

A médica e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF), Sônia Mares Oliveira Zagner, não utiliza o paracetamol como sua primeira opção para tratamento dos sintomas da dengue. Ela, que trabalha com pesquisa de acompanhamento clínico do paciente com dengue há 20 anos, utiliza em seus pacientes a dipirona. Segundo Sônia Zagner, a dengue não possui tratamento e os medicamentos utilizados servem apenas para aliviar seus sintomas.

“Apesar da literatura não divulgar um número expressivo de casos que propicie a proibição do paracetamol, eu tenho como primeira opção de escolha a dipirona, porque sei que o paracetamol pode ser indutor de lesão hepática. E pesquisas apontam que o vírus da dengue se estabelece, em sua maioria, no fígado”, explica Sônia.

Uso deve ser limitado

A bula do paracetamol recomenda o uso limitado do medicamento. Ele só deve ser usado no prazo de dez dias e em casos de febre o limite cai para três dias. De acordo com a conselheira do Conselho Regional de Farmácia do Rio de Janeiro, a professora de farmácia da Unigranrio Tânia Maria Lemos Mouco, o paracetamol não é seguro.

“Não existe uma dose segura para o uso do paracetamol nos casos de dengue, já que ambos, tanto o medicamento quanto o vírus da dengue são hepatotóxicos. Como a dengue provoca febre e dores no corpo, a dipirona poderia servir como medicação de alívio.

“A contra-indicação da dipirona é para situações hematológicas, já que o uso crônico deste medicamento provoca diminuição dos glóbulos brancos (células de defesa) do sangue”.

O Ministério da Saúde informou que, o paracetamol é o medicamento de primeira escolha no controle de dor leve por ter perfil de efeitos adversos mais favoráveis em doses terapêuticas. Com uso de doses apropriadas, raramente causa efeitos adversos.

Além disso, a assessoria de imprensa do ministério diz que com base na literatura científica atual pode-se constatar que o uso do paracetamol em pacientes com dengue e com doença hepática que apresentem reserva funcional hepática satisfatória pode ser realizado de forma segura sem agravamento do quadro.


No fim das contas, permanece a sensação de que o paciente fica no meio de uma encruzilhada de informações desencontradas, que só fazem aumentar a dúvida e a ansiedade na hora em que se vê acometido da doença, sem saber ao certo como proceder.

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